Boletim de Notícias nº 9 | Page 11

Camões, IP edita “A Construção secular de uma identidade étnica transnacional: a cabo-verdianidade”, tese vencedora do Prémio Fernão Mendes Pinto 2012 A tese de doutoramento “A Construção secular de uma identidade étnica transnacional: a cabo-verdianidade”, de Pedro Manuel Rodrigues da Silva Madeira Góis, vencedor da 5ª edição do Prémio Fernão Mendes Pinto, acaba de ser editada pelo Camões, Instituto Português (IP). O Prémio Fernão Mendes Pinto é atribuído anualmente desde 2008 pela Associação das Universidades de Língua Portuguesa (AULP), destinando-se a galardoar uma dissertação de mestrado ou doutoramento que contribua para a aproximação das comunidades de língua portuguesa e que explicite relações entre comunidades de, pelo menos, dois países. A distinção compreende um valor pecuniário atribuído numa parceria conjunta entre a AULP e a Comunidade de Países Língua Portuguesa (CPLP), bem como a edição da tese, a realizar pelo Camões, IP. Esta investigação procura responder o que é ser «cabo-verdiano». «Iniciado o processo de investigação fui navegando várias ideias e entranhando a resposta: afinal Cabo Verde não era (apenas) uma nação mas uma transnação. A identidade dos seus constituintes era construída no interior do arquipélago de Cabo Verde (era e é uma identidade póscolonial em construção) e fora de Cabo Verde em cada uma das ilhas do seu arquipélago migratório. Se tomássemos em consideração o peso relativo das populações dentro e fora de Cabo Verde percebíamos que a nação da «nha terra» e a da «terra longe» se influenciavam mutuamente. (...) A identidade (étnica) transnacional é, penso agora, uma singularidade de nações como a cabo-verdiana que se construíram em contacto com o mundo e que não hesitaram em transgredir o fechamento grupal tradicional. A emigração contínua e continuada ao logo de dois séculos foi essencial para este resultado. A geografia dos destinos migratórios providenciou uma diversidade de contactos que se revelou matricial para a construção identitária. Ao aceitarem o «outro», ao reagirem ao confronto com o «outro» em múltiplas geografias, transformaram uma identidade nacional numa identidade capaz de funcionar em mais do que um plano. Ao integrarem influências do arquipélago migratório como parte da sua identidade tornaram-se um caso interessante de uma identidade ao mesmo tempo singular e global. É desta história que fala o presente volume. A origem deste trabalho é facilmente apreensível: uma tese de doutoramento em Sociologia na Universidade de Coimbra. A forma como está escrita denota uma incapacidade de simplificar o que (sempre) sentimos que é complexo. Abundam as referências teóricas, a ancoragem em autores e nos seus conceitos, a tentativa de criar teoria a partir da realidade. A densidade da escrita reduz, necessariamente, o alcance da obra mas a ausência desta densidade faria perecer os seus objetivos. Ainda assim, o texto deste livro resume as principais argumentações da tese original e reduz e simplifica a conceptualização, a teoria e o resultado do «trabalho de campo» então apresentado. Ao reduzir o texto perdem-se ideias e contraditório. O Prémio Fernão Mendes Pinto outorgado à tese original possibilita a sua edição e, temos fé, acrescenta leitores ao texto. Ao mesmo tempo, porém, responsabiliza o autor que doravante terá que fazer um esforço maior de explicitação dos conceitos e garantir ao leitor que este é um tema importante para uma peregrinação intelectual. Esta é apenas uma contribuição para um debate e não pretende, em caso algum, esgotar um tema. Não tendo eu «nascido» cabo-verdiano, ao fim de tantas páginas sou, pelo menos, alguém a quem Cabo Verde ajudou a formar enquanto pessoa. É a Cabo Verde e ao cabo-verdianos que dedico este livro.» O Camões - Instituto da Cooperação e da Língua I.P. publicará em