Texto 2
Ao Leitor
Que Stendhal confessasse haver escrito um de seus livros
para cem leitores, coisa é que admira e consterna. O que
não admira, nem provavelmente consternará é se este
outro livro não tiver os cem leitores de Stendhal, nem
cinquenta, nem vinte, e quando muito, dez, Dez? Talvez
cinco. Trata-se, na verdade, de uma obra difusa, na qual
eu, Brás Cubas, se adotei a forma livre de um Sterne ou de
um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumas
rabugens de pessimismo. Pode ser. Obra de finado.
Escrevia-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia;
e não é difícil antever o que poderá sair desse conúbio.
Acresce que a gente grave achará no livro umas
aparências de puro romance, ao passo que a gente frívola
não achará nele o seu romance usual; e ei-lo aí fica
privado da estima dos graves e do amor dos frívolos, que
são as duas colunas máximas da opinião.
A prosa é outra forma de
manifestação literária
que vamos abordar em
detalhes no módulo
seguinte. Machado
de Assis, autor do
texto acima, foi um dos
principais prosadores
brasileiros do século XIX.
O Trecho pertence ao
início de “Memórias
póstumas de Brás
Cubas”, obra de 1881.
Notamos que o romance
citado caminha para
outra direção, oposta à poesia. Trata-se da prosa de ficção que tem
como principal objetivo o relato de uma história, ou seja, a vida de um
personagem amargurado contada por ele mesmo.