Trecho escolhido: A Alegoria da caverna
(Escrito no século IV a.C.)
“Depois disto – prossegui eu – imagina a nossa natureza, relativamente à
educação ou à sua falta, de acordo com a seguinte experiência. Suponhamos uns
homens numa habitação subterrânea em forma de caverna, com uma entrada
aberta para a luz, que se estende a todo o comprimento dessa gruta. Estão lá
dentro desde a infância, algemados de pernas e pescoços, de tal maneira que só
lhes é dado permanecer no mesmo lugar e olhar em frente; são incapazes de
voltar a cabeça, por causa dos grilhões; serve-lhes de iluminação um fogo que se
queima ao longe, numa eminência, por detrás deles; entre a fogueira e os
prisioneiros há um caminho ascendente, ao longo do qual se construiu um
pequeno muro, no gênero dos tapumes que os homens dos "robertos" colocam
diante do público, para mostrarem as suas habilidades por cima deles.
– Estou a ver – disse ele.
– Visiona também ao longo deste muro, homens que transportam toda a espécie
de objetos, que o ultrapassam: estatuetas de homens e de animais, de pedra e de
madeira, de toda a espécie de lavor; como é natural, dos que os transportam, uns
falam, outros seguem calados.
– Estranho quadro e estranhos prisioneiros são esses de que tu falas – observou ele.
– Semelhantes a nós – continuei -. Em primeiro lugar, pensas que, nestas
condições, eles tenham visto, de si mesmo e dos outros, algo mais que as sombras
projetadas pelo fogo na parede oposta da caverna?
– Como não – respondeu ele –, se são forçados a manter a cabeça imóvel toda a
vida?
– E os objetos transportados? Não se passa o mesmo com eles ?