S
ócrates responde que, para continuar, é necessário definir, antes, em que
consistem a justiça e a injustiça e pede licença para agir como aquele que,
tendo que ler um texto escrito em letras miúdas, recorre ao argumento de que
esse mesmo texto está escrito com letras maiores em outro lugar. Para assim
proceder, propõe começar investigando onde está a justiça no Estado, para só
então descobrir onde ela reside nos indivíduos. É a partir desse momento do
diálogo que Platão começa a delinear sua cidade ideal, a sua República. Para ele, a
cidade nasce porque nenhum homem, sozinho, é capaz de satisfazer todas as suas
necessidades, ao passo que a divisão do trabalho faz aumentar a eficiência. Uma
cidade simples, sem luxos nem afetações, manteria sua coesão, pela própria
necessidade que cada um de seus membros tem, em relação aos demais. Se, no
entanto, quisermos estabelecer uma cidade com todo tipo de comodidades,
surgirão certamente sentimentos como os de inveja e receios que tenderão a
quebrar sua unidade.
P
latão prescreve a divisão da cidade em três classes. A primeira será a dos
governantes ou guardiões, cuja função é governar e sua principal
característica deve ser a capacidade intelectual, ou seja, propõe o governo dos
melhores. E como os melhores são os filósofos, defende que sejam eles os
governantes de sua imaginária república. Sua diretriz deve ser que velem pelos
interesses da cidade, como se velassem pelos seus próprios. A segunda categoria
será a dos guerreiros e auxiliares, cuja principal tarefa deve ser a defesa da cidade,
tanto das agressões externas, quanto das desordens internas.