As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 96

do a faca e extrair novas vantagens. As oposições, por sua vez, gritam, esperneiam, agitam-se, cada partido a seu modo, mas só estão mesmo interessadas em infernizar o governo e eventualmente em ver seu próprio cacife crescer para 2014. Uma eventual “crise de governança” não é a antessala do caos ou da ruptura institucional. Pode ser administrada e tolerada. Pode ficar naquela condição de precariedade que costuma ser suportada pelas democracias. Mas, caso se estenda no tempo, costuma produzir ingovernabilidade, deterioração e desmoralização. Do governo, antes de tudo, mas também do Estado em seu conjunto. [15/07/2013] O pacto pela saúde como oportunidade As propostas governamentais para a Saúde têm mais virtudes que defeitos. Pecam por uma falha de procedimento e de comunicação, o que vem facilitando sua rejeição pelos médicos. Os que são contra estão traduzindo a proposta na chave imposição/obrigatoriedade. Fecham-se para o lado generoso das medidas, que visam disseminar o atendimento médico básico e fazer com que mais profissionais cheguem aos rincões do país. O governo, por sua vez, erra por não ter preparado o ambiente e por estar enfiando pela goela dos médicos algumas coisas que precisam ser bem explicadas. E que não podem ser explicadas e compreendidas em ritmo de passionalidade intensiva ou de busca da legitimidade perdida. Ambas essas atitudes menosprezam a gravidade da situação. Não é toda hora que um movimento popular de massa fala em lutar por mais e melhor saúde, ou que um governo é obrigado a dar prioridade para uma política estratégica como a de saúde. Abriu-se uma oportunidade rara para que se busque acumular forças com que atingir esse objetivo. 94 As ruas e a democracia