As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 90
instituto da reeleição no momento que o governo deixou de governar e passou dois anos antes do seu final a se preocupar, exclusivamente, com o processo da reeleição”.
Papo furado. Conversa para boi dormir.
Assim como o PT tomou a iniciativa de agendar uma reforma política, o PSDB tentou dar um passo à frente com propostas mais detalhadas. Se isso tivesse feito com que o PT também detalhasse as suas, poderíamos ter tido avanços em termos
de discussão, ainda que tudo permanecesse submetido à camisa-de-força eleitoral.
O que ninguém ainda disse é que a discussão das regras do
jogo talvez não seja o fundamental. Estamos substancializando
aquilo que deveria ser acessório. Reforma política só faz sentido
se for traduzida como reforma da política, ou seja, reforma das
cabeças, da cultura, das mentalidades, do modo de proceder,
como se quiser chamar. Enquanto não se for nessa direção, os
avanços serão pequenos, ou quase nulos, e talvez sequer se
avance. Sempre se pode piorar o que está aí. Não há sistemas
perfeitos e nenhum deles funcionará bem se os políticos não
mudarem, se a correlação de forças não mudar, se a obsessão
eleitoral não ceder espaço para o embate de ideias. Não é preciso ser institucionalista para que se entenda o valor das instituições. Mas elas não modelam os atores, a não ser no longo prazo
e na dependência de muitas outras coisas.
O sistema precisa ser ajustado. Ficar discutindo o como fazer isso (se mediante consulta popular, plebiscito ou referendo)
não é tão importante quanto definir o que mudar e o que fazer
para que melhore a qualidade da política. Nesse caso, a resposta
está além da instância política em sentido estrito. Se as ruas disseram algo é que a política precisa mudar, não necessariamente
o sistema. [10/07/2013]
88
As ruas e a democracia