As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 88
social e política do governo para defendê-lo e defender a obra do
PT”. (José Dirceu, em seu blog)
As frases dizem bastante, mas não dizem tudo. Até porque
precisam ser combinadas entre si para que se alcance uma análise esclarecedora. Mais ou menos como segue.
A reforma política ficou travada no Brasil porque parlamentares só mudam regras do jogo político se não se prejudicarem
com isso. Reforma política nunca foi proposta por nenhum presidente interessado de fato no tema. Caso venha a ser, avançará.
Mesmo sem plebiscito. Presidentes podem muito num sistema
presidencial. E parlamentares podem não ser progressistas e revolucionários, mas sabem quando o fogo chega perto.
Deve-se aproveitar o momento e fazer com que as ruas tirem
o Congresso e a Presidência da letargia. Nem tudo será resolvido, mas muito poderá ser conseguido. A Presidência já se mexeu. Não se mexeu corretamente, a meu ver, produzindo mais
marola que alteração na direção dos ventos. Não saiu do lugar,
mas se mexeu. Falta o restante do sistema. Pressão social é decisiva. Tomara qu e não reflua. Abriu-se uma oportunidade.
O problema é saber se alguém poderá coordenar a pressão social
e se será necessário haver coordenação Os partidos não estão à
altura. Até por estarem a ser “rejeitados” pelos manifestantes e
por não estarem conseguindo entender a mensagem que vem
das ruas. Hoje, concretamente, o sistema, que colonizou o
mundo da vida, está sendo desobedecido e colonizado pelo
mundo da vida. Essa colonização, porém, é imperfeita, pois está
anunciada mas não realizada. Na verdade, se realizada, não
será uma colonização, mas uma emancipação.
Basta ver como os partidos batem cabeças, como não falam
nada, não conseguem definir um rumo. Nenhum deles escapa,
nenhuma corrente. O silêncio chega a doer.
A frase de José Dirceu é a confissão cabal disso. O PT está no
governo, mas é como se não estivesse. Parece mais propenso a
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