As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 86
para que elas possam imprimir suas digitais na reforma, sem o
que não irão aderir a ela. O governo tem maioria no Congresso,
mas não controla essa maioria programaticamente, só fisiologicamente. Se errar na dose, corre o risco de perder tudo.
A proposta de plebiscito nasceu torta. As ruas não estão a
pedir reforma política, mas reforma existencial. Terão de ser
educadas para que entendam que existência e política são irmãos siameses. E isso leva tempo. Se se acelerar demais, o feitiço virará contra o feiticeiro. [30/06/2013]
A hora da política e as dificuldades da Presidência
Muito se tem falado sobre a situação política do país e seus
desdobramentos em termos de resposta governamental e manejo da crise. Passando rapidamente por aquilo que é mais visível,
duas conclusões saltam aos olhos: há mais confusão que clareza
e mais fragmentação que unidade.
São conclusões óbvias, mas nem por isso pouco importantes. Sobretudo porque delas deriva o eixo principal do momento: a dificuldade para se coordenar um processo altamente
explosivo e multifacetado. Os poderes – do municipal ao federal – estão mostrando grande despreparo e seguem trilhas discutíveis. Em julho de 2013, por exemplo, ainda sob o impacto
dos protestos de junho, ao passo que a presidente Dilma insistia na convocação de um plebiscito para “ouvir o povo” sobre a
reforma política, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, jogava para a plateia com um pacote de factoides que só
complicaram e desgastaram sua já complicada e desgastada
gestão. Para se ter uma ideia de como o governador paulista
patinou, basta lembrar que ele gritou a plenos pulmões que
iria economizar 350 milhões de reais mediante a venda de um
helicóptero e de parte da frota de automóveis do Estado, provavelmente já meio sucateados. Prometeu também fundir três
fundações técnicas (Fundap, Seade e Cepam), numa operação
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