As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 85

Suspeito que alguma corrente interna a tenha, ou a ala majoritária do Diretório Nacional, mas não o partido. Sendo forte como é, por que o PT não disputa as eleições com a bandeira da reforma política tremulando bem alto, e briga com dedicação por ela? Se a população está assim tão convencida da necessidade de uma reforma, votará fácil naquele partido que a apresentar corretamente. Só faz sentido fazer reforma política, hoje no Brasil, se for para radicalizar democraticamente. Não é com voto distrital, lista fechada, proibição de reeleição e financiamento público que se avançará. Isso seria cosmético e, decidido de qualquer jeito, às pressas, poderia fazer com que o sistema político ficasse ainda pior. A questão é recriar a representação, dar-lhe uma musculatura que foi corroída pelo tempo, pelas novas formas sociais e pela indigência política dos partidos. As ruas estão querendo outras coisas, não mais do mesmo. E não há, teórica e politicamente, um plano de voo para atendê-las. Tanto o Estado quanto a sociedade civil precisam de tempo para formatar algo novo, que radicalize democraticamente a democracia. O deputado Henrique Fontana (PT) apresentou tempos atrás um projeto de reforma política bem articulado, como relator de uma comissão que examinou o assunto no Congresso. Seria essa reforma consensual no partido, seria ela que se quer submeter a plebiscito?