As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 83
afinadas com os interesses e causas populares. Tirando a ideia
de que a democracia representativa deve ser ampliada com institutos de democracia participativa, todos os demais detalhes
técnicos, procedimentais, não integram um projeto popular, se é
que existe algum projeto popular de tipo institucional no país.
Não existe, nas condições atuais do mundo, um modelo político que possa ser visto como categoricamente aberto aos interesses e causas populares.
Os democratas de todos os tipos e cores não deveriam esperar para acabar com os absurdos do sistema político. Mas precisariam ter um consenso sobre como fazer isso. A ideia não é fazer um pacto? Se é, não se pode achar que o pacto será em torno
da minha ideia, pois se agir assim não estarei propondo um pacto, mas tentando convencer os eventuais pactuantes de que minha ideia é a melhor. Pactos se fazem em torno de proposições
genéricas: alcançar a paz, distribuir a renda, reformar a política.
Os detalhes devem ser definidos pelos pactuantes.
Precisamos aproveitar o momento para discutir o modelo e
tentar reformá-lo em profundidade. A dinâmica binária de um
plebiscito não ajuda nisso. Atrapalha. Para elaborar um discurso
que esclareça, agregue e articule, precisamos de dialética e não
de esquematismos plebiscitários.
Por isso, para ser sério, um eventual plebiscito deveria ter
somente três perguntas: (1) você concorda que o Congresso faça
uma reforma política no Estado brasileiro? (2) você concorda
que o Congresso abra um amplo fórum de discussões com a
sociedade para subsidiar a reforma política? (3) você concorda
que as mudanças a serem introduzidas passem a valer já para as
eleições de 2014, com a devida alteração dos prazos regimentais
fixados pela Constituição?
Com a 1, todos concordariam, para não pagar o mico de
irem contra as ruas. Na 2, votariam “não” todos aqueles que
acham que o Congresso está controlado por conservadores que
II. Depois de junho. Sobre as respostas governamentais
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