As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 82

Como então poderão decidir? Com que racionalidade? O debate público democrático que deve preceder a essa ida às urnas simplesmente não existirá. Que esclarecimento público haverá então? Com essa proposta – que tem impacto e compensa a lentidão com que se mexe na outros quatro pactos (saúde, transportes, educação e economia) – não se dará nenhum passo à frente. Correremos até mesmo o risco de irmos para trás ou de ficarmos a fingir que estamos caminhando quando sequer saímos do lugar. Visto das ruas ou visto do Estado, o panorama é preocupante. O processo fugiu do controle e não há em Brasília e em nenhum outro Palácio estadual ou municipal qualquer plano de ação confiável para tentar manter o avião em boa altitude de cruzeiro. A presidente tentou se vincular às vozes das ruas e pôs um bode na pauta. Pode ser difícil tirá-lo daí. [26/06/2013] Sem clareza, plebiscito não é saída Muita gente fala que os atuais congressistas são conservadores demais para aprovar uma reforma política que leve em conta os interesses e as “causas populares”. Por isso, seria o caso de usar o plebiscito para pressioná-los. Há boa dose de verdade nesse pensamento. A composição do Congresso indica que o conservadorismo está bem assentado ali, especialmente no plano do modelo político. É um conservadorismo, nesse caso, de tipo corporativista e defensivo: não querem reformas políticas porque não querem correr riscos, refazer cálculos eleitorais, escapar da zona de conforto em que têm vivido e em que atuam. Não se trata de ideologia, mas de interesse. É um conservadorismo que atraves sa todos os partidos e que, por isso, não pode ser pensado em termos de direita vs esquerda. Até mesmo porque, salvo prova em contrário, ninguém sabe dizer de modo categórico que reformas políticas estariam 80 As ruas e a democracia