As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 79
como poderão voltar a ter vigor, agenda e discurso propositivo.
Caso concluam que não é esse seu papel ou que não podem fazer
isso, deveriam sair de cena. Por que o PSDB, que tanto se orgulha
de seus quadros intelectuais e de seus feitos históricos, não aproveita o ruído democrático das ruas para se renovar, se reorganizar
e rever algumas de suas opções? Também ele foi posto em xeque
pela sociedade. Por que então o PSDB não sai do muro e abraça
claramente a socialdemocracia (que está em seu programa e em
sua simbologia, mas não é propriedade dele), propondo-se a articular outras propostas partidárias que pensam como ele?
A discussão sobre os partidos é importante porque talvez
ajude a que a política brasileira se liberte dessa camisa-de-força
que é a polarização PT vs PSDB, que envenena a disputa democrática e trava a organização de governos capazes de reformar o país. Essa polarização, que já não faz mais sentido, continua a ser insistentemente repetida, como um mantra, por
muitíssimos políticos, ativistas e formadores de opinião.
Tudo isso poderia ser resumido numa questão: como fazer
para que as vozes das ruas se encontrem com a voz do Estado,
de modo a democratizá-la? Como fazer para que a política dos
cidadãos – feita de questões existenciais fortes e desejo de comunidade – se articule com a política dos políticos, feita de
cálculos frios e desejo de poder? Se essa articulação se der, a reforma da política se completará em sentido democrático.
Falando à nação na noite de 24/6, a presidente propôs um
pacto nacional em torno de 5 pontos, entre os quais um debate
amplo sobre a possibilidade de se ter um plebiscito para se organizar uma Constituinte específica para a reforma política. Isso
pode ser interpretado como um recuo do governo e a abertura
de outro padrão de diálogo entre ele e as oposições? As oposições estão abertas para esse diálogo?
O discurso presidencial tem falhas e, se visto no varejo –
quer dizer