As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 78
fazer nada a mais. Não se preparou para uma mudança na direção dos ventos. Por isso não propôs nada.
Mas precisamos distribuir bem as coisas. O problema não é Dilma. Talvez ela seja a solução. Ela e a orientação dominante no PT,
da qual ela é representante, Lula incluído. Tentar imprimir uma
dinâmica de luta de classes no momento atual não corresponde aos
fatos. E não interessa a ninguém, exceção feita à moçada de esquerda e direita que não consegue pensar sem essas categorias.
Enfraquecer a presidente agora, como fazem os esquerdistas
com a alegação de que querem ajudá-la a se livrar de “traidores”
e “vacilões”, é ruim para todos. É um erro político, seja se a
questão for o fortalecimento do PT, seja se for a defesa da democracia. [23/06/2013]
Perguntar não ofende
Nenhum partido ou político escapou da crítica das ruas. Isso
indica que temos uma força social querendo mudar, querendo
obter respostas mais competentes dos governos, querendo melhorar a qualidade da democracia e do governo representativo
entre nós. É uma força em estado nascente, mas de qualquer
modo é uma força.
Como os partidos devem reagir? Conseguirão ouvir as ruas?
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse numa entrevista em junho: “Há uma descrença nos caminhos políticos e
por isso os partidos que quiserem se recompor com o povo têm
que chegar mais perto do povo e sentir qual é a demanda”. É uma
boa frase, que sinaliza uma posição interessante, que convida os
políticos a “terem a grandeza de dizer: estamos errados”.
Não estaria mais do que na hora dos partidos sacudirem a
poeira que se acumulou neles, que fez com que envelhecessem de
modo dramático? Os partidos deveriam se preocupar em saber
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As ruas e a democracia