As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 77

A pressão de esquerda sobre Dilma A esquerda independente mais radical e alguns setores da esquerda petista estão a ensaiar uma nova fase: exigir que Dilma ajuste seu governo, volte às origens e empreenda uma guinada em suas políticas. Para eles, o governo Dilma está cedendo demais ao pessoal vacilante, no qual são incluídos os ministros provenientes do PMDB e quadros petistas tidos como mais à direita, casos de Paulo Bernardo e Jacques Wagner. Sobra até mesmo para o prefeito Fernando Haddad. Parece incrível, mas não é. Se olharmos o debate que rola nas redes sociais, veremos essas posições serem expostas insistentemente. É fogo amigo de alta voltagem, parte da luta interna que cresce em ambientes do partido e na “sociedade civil petista”, quer dizer, nos círculos que congregam pessoas que apoiam o PT e seus governos, pessoas que em muitos casos são mais petistas que os próprios petistas. Mas como exigir isso de Dilma se o governo dela depende justamente de uma base parlamentar de centro-direita para se sustentar? Trata-se de um governo que tem no equilíbrio da presidente seu principal esteio. Ela simplesmente não pode ir para a esquerda. Seja porque sua base não a acompanhará, seja porque a sociedade não a apoiará. Não estamos num momento de aguçamento de conflitos entre esquerda e direita. Reflexo claro disso foi o discurso de 21 de junho. Dilma foi firme, calma e equilibrada. Não anunciou nenhuma guinada para a esquerda ou para o centro. Se o discurso tiver de ser criticado, não é por ter sido moderado e tranquilizador, atento aos ruídos das ruas. Mas por ter sido vazio de propostas e ruim na comunicação. Por mostrar um governo que não sabe bem o que deve ser feito para dar um passo à frente. Talvez isso se deva à convicção governamental de que tudo estava tão bem e a população estava tão ao lado da presidente, que não seria necessário II. Depois de junho. Sobre as respostas governamentais 75