As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 68

Em setembro, o sistema recuperou o fôlego. Mas continuou o mesmo, patinando, a gerar mais problemas que soluções, expondo-se ao risco de ser novamente desafiado pelas ruas. O Estado mostrou estar torto, atravessado por éticas e procedimentos distintos, sem um eixo claro. As vozes de junho pediram um Estado aberto e competente para organizar políticas públicas que tornem a vida melhor e mais justa. Um Estado menos subalterno à força do dinheiro: submetido ao controle social, ativo e responsável, com serviços e políticas melhores, não somente com obsessão por crescimento e oferta de bens. Os que protestaram, no fundo, exigiram democracia de qualidade, política com ideias, valores e propostas claras, mais sociedade civil e mais Estado republicano. É uma agenda básica, essencial, indispensável para que o país encontre outro rumo. Ela converge para a reformatação do Estado, exige ousadia política e passa por algum tipo de pacto social. Enfrentada com as conhecidas e usuais práticas de antes, sequer será arranhada. O resultado disso de algum modo aparecerá, quem sabe já nas eleições de 2014. A mesmice e a recomposição passiva do sistema somente servirão de alimento e combustível para o prolongamento nefasto do mal-estar que corrói a cidadania. 66 As ruas e a democracia