As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 67

coisa ao eleitorado. Se desistir de tudo, jogará fora o que talvez seja sua maior oportunidade. Por mais que venha a pesar na sucessão de Dilma, poderá chegar com mais desvantagens que vantagens em 2014. Enquanto o sistema se recompunha, ampliou-se a luta interna no PSDB. Em primeiro lugar, pelas repercussões das denúncias que revelaram a existência de um cartel que operava as licitações da rede metroferroviária paulista. Em segundo, pelo prolongamento pouco razoável da novela da indicação do candidato tucano às presidenciais de 2014. O partido não se acerta e não se entende, sequer no elementar. Despreza as janelas que se abrem à sua frente. Descarta trunfos como se pudesse voltar a acumulá-los assim que desejar. Não consegue reagir aos tombos que sofre. Parece dilacerado por questiúnculas associadas a luta por espaço e a personalismos pouco justificáveis. Disso também é feita a política, com certeza, mas seria de esperar que um partido que se diz vinculado à social-democracia oferecesse à sociedade e ao Estado bem mais do que esse espetáculo comezinho de protagonismos que não se compõem. Alguma ideia, algum projeto, alguma visão de futuro: seria o mínimo. Por refugar da posição de líder das oposições e se deixar arrastar para a margem, o PSDB queima os cartuchos de que dispunha para ser competitivo em 2014. Mostra-se frágil até para disputar São Paulo, seu troféu principal. Enquanto o governo recuperava o equilíbrio e a iniciativa, a oposição dava sua contribuição para fortalecê-lo ainda mais. Investiu pesado, de forma equivocada e preconceituosa contra os médicos cubanos, como se se tratasse de profissionais desqualificados e não de quadros técnicos e políticos de primeira linha. Torceu contra o Programa Mais Médicos, ao passo que a população o recebia de braços abertos. Para complicar, continuou sem apresentar qualquer ideia ou qualquer política com que se contrapor ao governo. I. Brasil 2013: as vozes das ruas e os limites da política 65