As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 65

de novos partidos e embates intrapartidários, motivados sobretudo pela aproximação do ano eleitoral. Não foi estranho o refluxo das ruas. Ora ativas, ora em silêncio, elas não têm como se mobilizar de modo permanente e somente podem manter regularidade se estiverem acompanhadas de sujeitos políticos qualificados para criar pontes com o Estado. Os partidos, porém, não estão em condições de ajudá-las nisso nem são aceitos por elas. A busca de autoexpressão, que tipificou parte das manifestações, não organiza consensos ou agendas. Ao menos no curto prazo e movidas pelo clamor espontâneo, as ruas não têm como ir muito longe. Novas mobilizações, se vierem a espocar, poderão alterar cálculos e previsões. Mas o sistema retomou o controle da situação. Houve um pouco de tudo quando setembro chegou. De um lado, a saúde pública caiu na boca do povo. Médicos cubanos começaram a circular pelo país, numa evidência de que poderão contribuir, com outros estrangeiros e tantos profissionais brasileiros, para que se enfrente a tragédia que aflige milhões de brasileiros. De outro lado, venenos e toxinas continuaram a ser liberados. O confronto protagonizado pelo presidente do STF, Joaquim Barbosa, e pelo ministro Ricardo Lewandowski na retomada do julgamento de recursos dos réus do mensalão foi dessas coisas que jamais se esquecerão. Pela violência verbal, pela grosseria e pelo ambiente em que tudo ocorreu. A perplexidade e o constrangimento foram gerais. Os dois juízes tentaram dar a briga por superada, mas o episódio mostrou que não dá para santificar o STF e muito menos seus integrantes. E deixou evidente que também ali se faz necessária uma reforma, no mínimo comportamental. Quase ao mesmo tempo, a Câmara dos D