As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 51
Hoje, o PT ensaia um mergulho para dentro de si próprio.
Dependendo de como vier a fazer isso, poder-se-á ter ou a revitalização e a reposição do partido no cenário político-social, ou sua
paralisia e sua perda de competitividade nas eleições de 2014.
3. A terceira questão tem a ver com a capacidade de resposta
de Dilma Rousseff nos meses que lhe restam de governo. Conseguirá produzir resultados efetivos no atendimento das reivindicações feitas pelas ruas, na reorganização da própria agenda
governamental, no enfrentamento vigoroso dos problemas nacionais e, com isso, na recuperação da boa posição eleitoral de
que desfrutava anteriormente?
Há, antes de tudo, a questão da inflação e do baixo crescimento, desafio principal de todos os governos brasileiros desde os anos
1980. Os indicadores de inflação oscilaram para cima no primeiro
semestre de 2013 e não se sabe bem como se comportarão daqui
para frente, especialmente porque ainda não foi contabilizado o
impacto da desvalorização cambial nos preços e não há como saber se o real continuará a ser desvalorizado ou não. Pode-se admitir que a inflação tenderá a perder força e a ser assimilada, mas
a retomada do debate acerca do crescimento econômico e do emprego não emergirá de forma inevitável, pois não há no país uma
articulação de forças sociais com um pensamento comum (um
“pacto social”) e que tenha condições de dar suporte a um modelo alternativo de desenvolvimento. O mais provável é que a economia brasileira se mantenha em crescimento modesto, sintonizado com o que ocorre na maioria das economias capitalistas do
mundo. Ainda que não seja trágico, é um cenário que não fornece
ao governo muita área de manobra para a