As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 49
improvisada e movida pela pressa, a presidente entrou em atrito
com o Congresso e desencadeou reações em cadeia na sociedade
civil, assistindo à queda vertiginosa de seus índices de popularidade: entre março e julho de 2013, o número de brasileiros que
consideravam ótimo ou bom o seu governo caiu de 65% para 30%.
Aprofundou-se a distância entre o governo e a opinião pública.
Juntamente com o prestígio da Presidência, caiu também o
índice de confiança dos brasileiros em todas as principais instituições do país, numa verdadeira avalanche de falta de credibilidade.
Pesquisa feita pelo Ibope após os protestos de junho e julho de
2013 (o Índice de Confiança Social, apurado anualmente) mostrou que o índice caiu de 54 para 47. Dos bombeiros aos partidos
políticos, das igrejas aos sindicatos, todas as instituições se tornaram menos confiáveis – inclusive meios de comunicação, governo
federal, prefeituras, Congresso e Judiciário.
São dados extraídos no calor da hora. Em julho, seria difícil
a presidente não perder pontos, assim como os demais protagonistas. Sua margem de manobra, porém, ainda que não seja
enorme, existe. Não há descontrole na economia, nem a inflação está em vias de atingir níveis altos. As oposições têm seus
próprios problemas e não é de se prever que consigam resolvê-los no curto prazo. A recuperação da popularidade presidencial
está, assim, escrita nas estrelas, ainda que possa não retornar aos
patamares de antes.
Dois meses depois de junho, os protestos refluíram, mas o
mal-estar não se desfez. O Brasil permaneceu flutuando na crise política, agravada por dificuldades inesperadas no terreno da
economia, que trouxeram de volta a inflação e complicaram o
endividamento dos consumidores. O pessimismo imperante no
cenário internacional, os indícios de que a recuperação norte-americana elevará os juros nos EUA e no restante do mundo
fizeram com que se esboçassem movimentos de fuga de capitais.
Tudo indicava que conflitos sociais, tensões políticas e disputas
I. Brasil 2013: as vozes das ruas e os limites da política
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