As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 48
controlar seu próprio governo. Tornou-se um partido igual aos
demais, sem agenda e sem poder de fogo. O “lulismo” cresceu e
Lula se tornou eminência parda, criando um contraste com a
presidente. Em dois anos e meio de governo, Dilma perdeu
apoios importantes, não produziu lealdades entre os movimentos sociais, fez muitas concessões a aliados conservadores, não
conseguiu dirigi-los. Não se articulou bem com a grande mídia
e seu partido não conseguiu criar uma mídia alternativa.
Evidenciou-se, assim, que o centro político do país estava carente de articulação, coordenação e liderança. A percepção de que
Dilma Rousseff talvez seja uma aposta de risco para o projeto político do PT e de seus aliados (em especial o PMDB, partido que
dá decisiva sustentação ao governo) fez com novas tensões viessem à tona, comprometendo ainda mais a ação governamental.
Reações e perspectivas
Surpreendida pela força da mobilização popular e sem conseguir decifrá-la plenamente, a presidente Rousseff apresentou ao
país uma série de medidas para tentar administrar o conflito social e o desgaste de seu governo. Falou em pacto nacional, mas
não avançou em direção a uma convocação concreta das forças
políticas para ajustar os rumos de seu governo. Em vez disso,
anunciou cinco eixos de atuação – reforma política, saúde, educação, transportes públicos e responsabilidade fiscal –, associando a
cada um deles algumas propostas pontuais que pouco acrescentaram à agenda do país. Procurou mostrar iniciativa e convocar a
população para se solidarizar com o governo.
Nesse momento, vieram à tona as carências que tipificam o
governo Dilma.
As propostas feitas em 24 de junho pautaram o debate político, mas não ofereceram soluções para os problemas apontados
pelas ruas. Agindo com precária articulação política, de forma
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