As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 45
grandes metrópoles: é que nelas se concentram os maiores horrores
do Brasil moderno e é nelas que a modernidade se radicalizou. Está
nas metrópoles, ainda que não somente nelas, o que há de “vida
líquida” (Bauman) no Brasil – individualização, falta de coordenação, fluidez e flutuações, tudo impulsionado por altas doses de conectividade e vida digital. É ali que o capitalismo exibe sua face
mais agressiva, que o mercado comanda e que o Estado tem mais
dificuldade para agir. Em vez de ajudar, a polícia, com seu estilo
militar de controlar e reprimir, torna-se parte do problema: é violenta demais e ineficiente demais, despreparada para administrar a
conflitualidade contemporânea. As comunidades (bairros, igrejas,
famílias) e a vida associativa cumprem algum papel ordenador,
mas não conseguem responder à altura. As cidades ficaram assim
marcadas pela insegurança, pela criminalidade e pela corrupção.
Ambientes hostis sobretudo aos jovens, que vivem nelas como seres
em busca de identidade e de um roteiro de vida.
A enorme população brasileira de jovens (são cerca de 40 milhões os que têm entre 15 e 24 anos) vive na maioria em cidades.
Trata-se de um segmento que sofreu grande transformação nos
últimos anos, seja como efeito da reorganização hipermoderna da
sociedade e da reestruturação produtiva do capital, seja como
efeito da mobilidade social derivada das políticas governamentais
de inclusão. Alguns dados indicam que cerca de 1,5 milhão de
jovens entre 19 e 24 anos não trabalham, não estudam e não procuram trabalho.
Majoritariamente, esse segmento permanece vinculado à
pobreza: 30% dos jovens vivem em famílias com renda familiar per capita abaixo de meio salário mínimo por mês, e apenas 15% são oriundos de famílias com renda familiar per capita superior a dois salários mínimos. Aproximadamente 53%
pertencem ao extrato intermediário, com renda familiar per
capita entre meio salário mínimo e dois salários mínimos.
Apesar disso, os níveis de consumo, informação e educação
têm melhorado, impulsionando os jovens para novos patamaI. Brasil 2013: as vozes das ruas e os limites da política
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