As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 41

quase R$ 12 bilhões desde 2008. Eles produziram empregos e facilitaram a aquisição do carro particular, mas também contribuíram para que lucros fossem remetidos para o exterior, além de terem tido o efeito colateral de sobrecarregar as vias urbanas. (2) A concentração de esforços em commodities não só beneficiou o capital primário-exportador – que não é propriamente um fator de dinamismo econômico – como induziu o país a certa inflexão desindustrializante, ao imaginar que ele poderia seguir em frente se especializando na exportação de produtos primários. (3) O atraso tecnológico e as deficiências de infraestrutura se mantiveram, asfixiando o crescimento. (4) A redução da desigualdade de renda foi real e positiva, mas o tema não ganhou densidade política, isto é, não entrou na corrente sanguínea da sociedade, do Estado e da política. Foi reduzido ao prosseguimento dos programas de transferência de renda e do estímulo ao consumo via crédito facilitado. Com isso, pacificou-se a sociedade e empurram-se os conflitos sociais para a margem. Em clima de maior atração pelos ganhos derivados do que fazia e falava o Estado, a sociedade civil diminuiu a pressão sobre ele, deixando de fiscalizá-lo e de cobrá-lo para ser mais “duro” (regulador) com as transnacionais, que aumentaram preços e reduziram a qualidade de seus serviços e produtos. Com o tempo, os consumidores foram se sentindo prejudicados e aumentaram a percepção de que as coisas (os serviços, sobretudo) não funcionavam tão bem e os oneravam. (5) As políticas públicas não se sofisticaram, não ganharam complexidade e não aumentaram sua integração horizontal. Ainda que tenham visto crescer sua legitimidade social e sua visibilidade pública, não conseguiram romper com o decisionismo da gestão econômico-financeira. Também não houve melhoria em termos de formulação e execução, o que terminou por impossibilitar avanços sustentáveis na desconcentração da riqueza. I. Brasil 2013: as vozes das ruas e os limites da política 39