As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 27

instituições e nem para impor um novo modo de fazer política, situação que se agravou com as transformações socioculturais ocorridas nas décadas seguintes. As elites políticas – de todos os partidos, da esquerda à direita – acomodaram-se ao sistema e passaram a se beneficiar dele, represando o que havia de potência democrática. Sequer os instrumentos de participação direta inscritos na Constituição foram aproveitados. Uma reforma em sentido forte, que modifique o sistema, produza impacto na cultura política e no modo de governar, é um desafio que só tem como ser vencido se incluir todas as forças sociais, dentro e fora do Estado. Uma reforma política cosmética, dedicada a alterar regras eleitorais, de nada servirá. De qualquer modo, se a questão for responder às ruas de junho de 2013, a reforma política será somente uma parte. Ajudará, mas não resolverá. Políticas públicas de qualidade dependem sem dúvida do modo como se faz política e da institucionalidade existente. Mas dependem mais ainda de capacidade de gestão, de formulação, de avaliação e controle. Passam por relações complicadas entre os entes da federação. Não podem ficar na esfera exclusiva de governos, parlamentares e partidos. Precisam ser projetadas como políticas de Estado, abertas para o conjunto da sociedade. São Paulo, setembro de 2013 Introdução 25