As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 223

pitalista”. Cada época tem seu tipo particular de corrupto, e o de hoje parece ser o “facilitador”. Nas décadas recentes, pessoas desejosas de ascensão social, emprego e prestígio foram projetadas em postos-chave do Estado. Muitas se enredaram em esquemas e maracutaias. Seus padrinhos conhecem as regras do jogo, não podem ser isentados de culpa. Não há mais “idealistas” no âmbito público e estatal. Também não há como contar com os mecanismos de controle da burocracia, cujas normas e cujo ethos jamais prevaleceram impávidos entre nós. Com isso, as oportunidades de aparelhamento aumentaram sensivelmente. As correias de transmissão entre Estado, partidos e particulares ficaram descontroladas. Precisaremos de tempo e determinação para que os atores entendam a nova estrutura da vida e domem os sistemas. Mas quanto antes começarmos a nos mexer em sentido reformador, melhor. Muito pode ser feito a partir da organização da indignação e dos desejos de se ter um país mais decente. Se aqueles que se mostram aguerridos no combate aos escândalos de hoje capricharem na mira, poderão funcionar como um polo de ativismo ético-político que ajudará a que se processem os escândalos que ainda virão, reduzindo paulatinamente sua potência. VI. A corrupção que não sai de cena 221