As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 220
Cresceu, paradoxalmente, durante os anos em que mais se sabe
de casos de corrupção. Elegeu e reelegeu Lula, fez Dilma presidente, ganhou eleições em estados e municípios antes inacessíveis, tornou-se uma potência política, caminhando como se
nada o atingisse ou prejudicasse. Suas cúpulas insistem em associar as denúncias de corrupção a um plano sórdido da direita,
da mídia e da “Justiça conservadora” para desconstruir o PT,
desestabilizar seus governos e ocultar suas conquistas. Não percebem que o argumento é ruim, insistem em não reconhecer
erros e escolhas equivocadas, prolongando a percepção de que o
partido naturaliza a corrupção.
Mas a corrupção não é de modo algum exclusividade do PT.
Ninguém pode posar de santo nessa seara. Trata-se de uma praga nacional. Em São Paulo, os tucanos achavam que seria possível escapar da praga. Santificaram Mario Covas e foram em
frente. Antes deles, ou quando eram todos peemedebistas, sempre houve rumores de que havia algo podre no estado. Tentaram construir uma imagem de paladinos da luta contra a corrupção. De repente, em agosto de 2013, a casa caiu, com a
denúncia de que se formara, por dentro da administração pública paulista, um cartel para se beneficiar dos processos licitatórios para compra de materiais para trens e metrô.
A situação hoje talvez não seja pior do que antes, na República Velha ou nos anos militares. Mas é certo que hoje se fica
sabendo dos trambiques com mais rapidez e facilidade. Não se
trata de um mal a ser sanado com mais intervenções judiciais.
A tribunalização ou a judicialização do tema tem baixa eficácia.
A cidadania ativa é decisiva. Os eleitores podem caprichar mais
nas escolhas. E os partidos devem fazer alguma coisa, assim
como os governos.
Corrupção não é coisa para se converter em matéria prima
de disputas eleitorais. É impossível evitar que isso ocorra, donde
os embates para ver quem é menos corrupto ou mais íntegro
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