As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 201
midiáticas tornam-se inevitáveis, sustentadas em parte por
atritos entre empresas e governos no que diz respeito à democratização da mídia e à ampliação dos espaços públicos de comunicação, e em parte por fatores de natureza política e ideológica. A “guerra pela informação” entre o setor público e o
setor privado recrudesceu.
Revoluções digitais
Nas complexas e diferenciadas sociedades atuais, não há somente o “público” e o “privado”, mas também o Estado, os governos, os mercados, os partidos, as organizações sociais, as redes digitais, os cidadãos. Nem tudo o que vem do “privado” é
contra o “público”. Pode ser contra o governo, por exemplo, e
não contra o Estado. Interesses governamentais, independentemente da orientação político-partidária que tenham, não são
sinônimos de interesse público.
A própria comunicação social, a mídia, a imprensa em particular estão hoje em aberta recomposição. Não é só a Mídia Ninja, o coletivo que se propõe a fazer coberturas com narrativas
independentes e combinando jornalismo e ação política. As novas tecnologias digitais, a disseminação maciça de smartphones e
a ampliação do acesso à internet promovem uma revolução na
comunicação e, por extensão, nos processos de formação da opinião e na dinâmica democrática. Estamos em um claro momento de antes-e-depois. Se, antes, os grandes veículos de mídia –
que continuam vivos, fortes e importantes, para o bem e para o
mal – detinham o controle da informação e pautavam o debate
público de modo quase exclusivo, agora eles são obrigados a dividir essa função com as redes digitais. Não se trata obviamente
de uma divisão “equilibrada” ou “justa”, mas não dá para achar
que exista uma única opinião ou uma única informação – nem
sequer uma única verdade – a respeito dos fatos da vida. Nunca
houve isso, e hoje faz pouco sentido acreditar que as informaV. Mídia, democracia e hipermodernidade
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