As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 20
assim: garantir a qualidade dos serviços públicos, como transporte, educação, saúde, segurança – o que significa: dar qualidade ao Estado brasileiro. Este foi o foco espontâneo dos movimentos de 2013.
O problema é como isto vai se realizar. Nenhum partido
sabe o que fazer para isso. O PT perdeu a hegemonia, no sentido gramsciano, no país. Hoje o discurso dominante sobre a política é antipetista. Sem dúvida, a oposição foi hábil ao dominar a
retórica política, assim compensando sua escassez de votos; mas o
próprio PT renunciou ao debate ideológico, preferindo ocupar
posições no Estado – e isso enfraqueceu a esquerda. A Rede tem
o discurso mais apto a entender as ruas, mas até agora não deu
sinais de que se prepare para governar o Brasil. Estamos perante
um tema político que a meu ver será o maior dos próximos anos,
mas sem sujeito da ação, sem estratégia nem tática.
Para quem tem simpatias por uma agenda progressista, que
chamamos de “esquerda”, e por isso apoia a inclusão social mas
também quer um Estado para chamar de seu, o momento chama
ao debate. É aqui que as análises de Marco Aurélio Nogueira são
relevantes. Nas páginas que se seguem, temos avaliações algumas
das quais feitas no calor dos acontecimentos, mas sempre remetendo a um grande conhecimento do país – e a uma preocupação
com os valores progressistas que não pertencem a um único partido, mas são patrimônio da sociedade. Deve ser ela a maior beneficiária das transformações que estamos vivendo há bons trinta
anos, para que consiga nos próximos anos, espero eu, completar a
formação de um Estado democrático digno.
Agosto de 2013
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As ruas e a democracia