As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 196

valorização dos controles estatais sobre órgãos e manifestações. Particularmente no Brasil, surge muitas vezes associada a mudanças nos critérios de concessão de frequências e faixas de transmissão, vistos regra geral como fortemente dependentes de acertos políticos, ou então vem impulsionada pelo desejo de que os governos não se deixem monitorar ou agendar pelas pautas midiáticas. A regulação muitas vezes se confunde mais com intenção de limitar a atuação da “imprensa marrom” do que com empenho para se ter um novo marco regulatório. A ideia de regulação só tem como se tornar efetivamente democrática se regular for categoricamente separado de controlar. Não se trata de controlar a mídia no sentido da voz, mas de aumentar o número de vozes. Pouco destaque se dá, nessa discussão, ao fato de que quando se fala de mídia fala-se de cultura, não somente de política ou de negócios. Toda perspectiva destinada a regular a mídia representa uma regulação da cultura, ou seja, a fixação de parâmetros que devem prevalecer na formação de uma coletividade de cidadãos. A regulação democrática da cultura – as políticas culturais, as leis do patrocínio e do incentivo cultural –, supondo que seja plausível, não se confunde evidentemente com cerceamento da liberdade (de imprensa, de opinião, de criação) ou com manipulação e direcionamento com vistas aos jogos de poder e hegemonia. Tem a ver, ao contrário, com proteção e valorização da cultura compartilhada. Trata-se, portanto, de proteger os cidadãos, de forma a que possam dispor, em igualdade de condições, do acesso à informação e ao conhecimento. A mídia empresarial e o jornalismo Particularmente no que diz respeito às grandes empresas de comunicação – que no Brasil ainda hegemonizam o campo da comunicação informativa e do entretenimento –, alguns pontos devem ser destacados: 194 As ruas e a democracia