As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 189

Em países como o Brasil, que nasceram inseridos de forma subordinada no mundo capitalista e ficaram marcados pela dependência e pelo atraso, a modernidade radicalizou-se em sentido perverso, combinando-se com “restos coloniais” e zonas históricas de exclusão social, o que comprimiu as possibilidades de autodeterminação, já complicadas pelo fato de que tais países não evoluíram com projetos nacionais que incluíssem, organizassem e solidarizassem a população. Suas classes dominantes foram regra geral predatórias e não se dedicaram a moldar a sociedade segundo sua visão do mundo: fecharam-se em si mesmas e desinteressaram-se dos “demais” grupos e classes, que foram abandonados à própria sorte, como se pertencessem a outra sociedade. Em boa medida, foram plantadas desse modo algumas importantes sementes de barbárie que impregnaram o centro da modernização capitalista desses países. Neles, os consensos são efêmeros, as decisões são difíceis e precárias, as instituições democráticas têm raízes frouxas. A modernidade ficou assim mais brutal mas “menos” radical: o prolongamento do passado e a força das intera