As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 185

uma exceção. Mas “estar no mercado” e fazer dinheiro com isso não é algo que deva isentar os empresários de agir dentro da lei e conforme a Constituição. No caso da mídia sobretudo. Toda mídia deve ser avaliada e assimilada por seus posicionamentos políticos. Em geral, isso acontece: cada um assiste a TV que escolhe, lê os jornais e revistas com que se identifica, o debate democrático pode detonar os jornais, os tribunais têm como puni-los quando ultrapassam certos limites, os governos podem selecionar os veículos de comunicação que receberão suas verbas publicitárias e têm muitos recursos com que exercer pressão sobre eles. Se somente existem jornais “de direita”, é porque a esquerda é fraca. Querer que jornais não tenham posição ou que as omitam quando as têm – julgá-los por isso ou aquilo, discipliná-los ou proibi-los – é um erro. É uma atitude inócua, também. O expressivo fortalecimento da mídia na hipermodernidade – especialmente a partir da disseminação maciça dos meios de comunicação eletrônicos – fez com que os veículos de comunicação passassem a ocupar um lugar de extraordinária relevância nos processos de construção de hegemonia. “A convergência tecnológica entre telecomunicações, mass media e informática, gestada pela era digital, colocou a mídia como elemento fundamental da engrenagem da globalização econômica e cultural e como o setor mais dinâmico da economia internacionalizada, para o qual estão sendo canalizados os grandes investimentos dos conglomerados transnacionais”. Por isso, “não surpreende que a mídia tenha também se transformado em palco e objeto privilegiado das disputas pelo poder político na contemporaneidade e, consequentemente, em fonte primeira das incertezas com relação ao futuro da democracia” (LIMA, 2001, p. 175176). A mídia substituiu os tradicionais agentes da hegemonia, os partidos políticos, na mediação entre candidatos e eleitores, na definição da agenda do debate público, na transmissão de informações políticas, na canalização das demandas sociais e na V. Mídia, democracia e hipermodernidade 183