As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 183
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ão teria sido preciso que se começasse a protestar contra a existência, no Brasil, de um “partido da imprensa
golpista” – o conhecido PIG, visto como dedicado a
perseguir os governos progressistas e a eles se opor de modo não
democrático – para que se soubesse que a imprensa, e a mídia
em seu conjunto, desempenham funções eminentemente políticas nas sociedades contemporâneas.
A capacidade de agendamento público dos veículos de comunicação social (agenda-setting) é um dado universal, não tem
a ver só com o Brasil. Se, por aqui, alguns acusam o Estadão e a
Folha de fazerem o jogo da “direita”, outros dizem o mesmo da
Carta Maior e da Carta Capital, que fariam o jogo do PT, por
exemplo. Não se devia esperar que jornais dessem tratamentos
idênticos aos governos. É uma posição ingênua, ainda que possa servir para agitar, quando se fala, por exemplo, em partido da
mídia golpista. Mas é uma ingenuidade que não encontra respaldo na vida, nem na teoria. Jornais são cidadãos coletivos:
posicionam-se e dão ênfases noticiosas conforme suas posições.
Quem quer ter aplausos ou “tratamento justo” por parte da mídia deve organizar seus próprios veículos de comunicação, como
de resto fazem os governos, todos eles. Lula vai ao Ratinho, que
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