As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 177
pessoas na política. Como fazer isso de modo organizado e produtivo é algo que ainda não se sabe, mas sabemos que será preciso caminhar nessa direção.
Precisamos, em suma, de mais “política dos cidadãos” e menos “política dos políticos” (NOGUEIRA, 2005). Ou seja, precisamos de políticos e de cidadãos em doses equilibradas, definidas
a partir de critérios que façam com que os políticos estejam efetivamente a serviço dos cidadãos e sejam por eles controlados.
Olhando para frente
O que virá no próximo ciclo político? Continuaremos governados por alguma forma esquisita de centro-esquerda, que oscila
entre o mundo social e o associativismo tradicional (o PT) e a
introdução de novas modalidades de gestão estatal e de organização da economia (o PSDB), ou entre um “capitalismo social” e
um “capitalismo gerencial”? O quadro não é animador. Os partidos diluíram-se como força propulsora de mudanças e de coordenação social. Converteram-se em gestores “racionais” dos próprios interesses, aparatos inertes, que não pulsam com convicção,
carecem de unidade e pensam pouco. Na disputa atual, perderam
o controle de seus candidatos, que se revelaram indiferentes a
eles. O próximo presidente governará inevitavelmente cercado
pelas ilhas erráticas e desconectadas da representação parlamentar, sem poder se agarrar a nenhuma delas em particular. Há muita movimentação, mas pouco movimento.
Diferenças de estilo, de projeto e de vínculo social evidentemente existem. PT e PSDB não pensam o Estado do mesmo
modo, ainda que não estejam sendo capazes de detalhar que
Estado imaginam ser necessário para o século XXI. Dá-se o
mesmo em matéria de política econômica e do que julgam ser
uma “boa sociedade”. São forças que se opõem, mas que não
estão separadas por distâncias abissais, insuperáveis. O que sobra do confronto entre eles é quase nada.
IV. Crise e reforma política
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