As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 176
proporcionalmente pouca gente, a dinâmica por ele gerada influencia tudo. Sobra menos tempo, menos energia e menos condições materiais para que se criem e se cuidem de instituições.
As pessoas “escapam” das instituições (NOGUEIRA, 2011).
Tudo isso traz muitas vantagens, mas também cria inúmeros problemas.
Não é por outro motivo que as instituições representativas
têm menos prestígio que a ideia e as experiências de participação. No mundo social fragmentado, individualizado e meio fora
de controle em que se vive, é muito mais lógico participar e defender interesses do que se fazer representar. A vontade de participar – de “agir”, de se “movimentar” – tem a cara da modernidade turbinada dos dias atuais.
Devemos torcer e brigar para que a representação melhore,
para que o voto seja valorizado, para que os legisladores, os dirigentes e as elites intelectuais abram com seriedade e criatividade a discussão sobre a reforma política, saindo do mantra monótono que nos embala. Mas também devemos aprender a viver
em um mundo de instituições mais leves e menos impositivas.
Daqui para frente, teremos de reconstruir as instituições existentes – do Estado à família e à escola – a partir de critérios mais
democráticos, abertos e dinâmicos.
É em torno da participação que flutuam as maiores esperanças de recomposição social e recuperação da política. Se a vontade de participar for devidamente politizada – isto é, se a luta
em defesa de direitos e a disposição participativa das pessoas
forem vinculadas a um desenho de vida coletiva –, isso não somente dará corpo e consistência à democracia, como também
“regenerará” a representação. Teremos de experimentar sucessivas reformas políticas, que ajustem e remodelem as instituições
políticas, tornando-as mais coerentes, mais eficazes e mais dialógicas com a vida real do século XXI, mas teremos de nos dedicar especialmente a abrir mais espaços para a projeção das
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As ruas e a democracia