As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 17

PREFÁCIO Renato Janine Ribeiro Universidade de São Paulo N estas décadas, quatro anos ficaram para a História: 1984, as manifestações por eleições diretas, que levaram ao fim da ditadura; 1994, a vitória sobre a inflação, com o Plano Real, implantado por Itamar Franco e continuado por Fernando Henrique Cardoso; 2003, a posse de Lula, com a firme decisão política de acabar com a miséria e promover a inclusão social; e 2013, ano tão inesperado e rico, para a compreensão do qual muito contribui o livro que Marco Aurélio Nogueira me convida a prefaciar. Cada dez anos, uma grande mudança. Mas bem diferentes entre si. As Diretas-Já foram uma festa nas praças. Já o fim da inflação, que o presidente Collor queria realizar com um certeiro golpe de ippon (termo emprestado das lutas marciais), se deu de maneira prosaica, tranquila, anunciada, sem surpresas. Esta foi, por sinal, a grande contribuição de FHC aos mores políticos brasileiros. Vivemos, nos anos anteriores, fortes emoções: o fim da ditadura e um inflacionado começo da democracia. Um discurso épico de direita ganhou a Presidência da República em 1989, contrapondo-se a um discurso épico de esquerda. Em face de ambos, FHC fez triunfar a prosa e por vezes 15