As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 164
para todos os candidatos, a propaganda eleitoral gratuita é afetada por uma espécie de efeito colateral: quanto mais é controlada pelo marketing, mais escapa do discernimento dos políticos, mais os degrada e mais rebaixa o discurso político, fazendo
com que a “imagem” seja mais significativa que o “conteúdo”.
A política fica então irremediavelmente apequenada, entregue a
malabarismos e performances histriônicas, a acusações bombásticas de parte a parte, a revelações surpreendentes e sensacionalistas, a apoios ou traições inusitadas.
Se estamos num mundo cada vez mais “visual” e “imagético”, de shows e luzes, de mercado onipresente e marketing permanente, de compra-e-venda de tudo, poderia a política seguir
caminho distinto? Caso tentasse fazer isso, não se condenaria a
remar contra a maré e a afastar-se mais ainda dos cidadãos, perdendo uma ótima chance de multiplicar sua mensagem e cumprir uma função?
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