As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 156
rão se houver mais democracia, fortalecimento do sistema representativo, educação política e mobilização da sociedade.
Uma reforma política digna do nome não pode privilegiar a
moralização. Seu eixo é o revigoramento democrático das instituições, a busca de coerência dos partidos, a lisura dos pleitos, a
expressão facilitada e equilibrada das preferências da população, a inclusão de novos eleitores. Sua razão de ser é a revitalização das relações entre as pessoas, a sociedade civil e o Estado.
É a recuperação do valor da política.
Porque para se ter política mais “limpa” e de melhor qualidade, é preciso que se tenha mais política. A reforma de que se
necessita é um caminho para que a sociedade se articule melhor
com o sistema político, projete nele seu modo de viver, pensar e
fazer política.
A política em estado de sofrimento
Num ambiente em que parecia não haver no horizonte indícios de crise ou desgoverno, em que a economia dava sinais de
que ia bem e aumentava o poder de consumo das massas, graças
ao crédito facilitado e à oferta maciça de produtos sedutores, a
atividade política acentuou seu componente subsidiário. Ela
aparecia aos olhos da sociedade como “mal necessário”, algo
que poderia ser dispensado ou reduzido a mera gestão de coisas,
a manutenção em funcionamento dos sistemas com os quais se
organiza a vida.
Tudo isso começou a ir pelos ares a partir do final de 2012,
quando as primeiras mordidas do mal-estar se fizeram sentir.
A explosão se completou em junho de 2013.
Antes, problemas e dificuldades estavam presentes, se repunham sem cessar, atravancando o cotidiano. A sociedade
manifestava sua insatisfação e suas contradições de diferentes
maneiras, mas sua voz não assumia forma política. A desorga154
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