As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 146

passam pelo “primado do papel do Estado como ação política consciente”. Somente assim, o social-desenvolvimentismo terá como equacionar os principais obstáculos característicos do subdesenvolvimento: a inconversibilidade monetária, o atraso tecnológico, a ausência de empresas nacionais operando em escala global, a fragilidade da infraestrutura econômica, a brutal desigualdade na distribuição da renda (CARNEIRO, 2013). As políticas que vierem a ser adotadas para articular um ataque eficiente a cada uma dessas frentes determinarão em boa medida o sucesso do governo Dilma na área econômica. O modelo brasileiro construído ao longo das duas últimas décadas aponta para um crescimento voltado para o mercado interno, com tendência à expansão das exportações e sustentado tanto pela estabilidade e pela expressiva presença do Estado quanto pela busca de autonomia empreendida por sua política externa. A articulação com as economias sul-americanas, ainda que mantenha posição de destaque, não ganhou até agora maior fôlego. A economia brasileira está fortemente internacionalizada e privatizada, com presença ativa de grandes multinacionais em praticamente todos os setores. Grandes empresas brasileiras, com importante atuação internacional, também têm grande peso relativo, como é o caso de Petrobrás (petróleo e gás), Vale (mineração), Gerdau (aço), Embraer (aviação), Votorantim (diversificada), Camargo Corrêa (diversificada), Odebrecht (construção e petroquímica), Perdigão (alimentícia) e Itautec (tecnologia da informação). Este modelo tem sido a base para que o processo político brasileiro produza uma aliança de classes e setores sociais que tem sustentado a atuação dos governos nacionais. Há algo nesse modelo que remete às propostas teóricas feitas nos anos de 1960 por Cardoso & Faletto, voltadas para a emergência de uma nova forma de capitalismo dependente na América do Sul, na qual o crescimento econômico se apoiaria em uma articulação do Estado com grandes empresas multinacionais. Mas a semelhança esbarra em algumas características distintivas importantes. 144 As ruas e a democracia