As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 142

Em relação ao Mercosul e à integração regional, a política externa continuou a mantê-los como instrumento de competição internacional no plano global e não assumiu, em nenhum momento, qualquer posição em favor de uma institucionalização mais avançada, nem mesmo quando passou a defender a autonomia do país mediante a diversificação de sua ação e de seus relacionamentos, com maior ênfase nas relações Sul-Sul e nos Brics, o que ocorre a partir do primeiro período governamental de Lula (VIGEVANI; CEPALUNI, 2011, p. 19-25). A possibilidade de que o Estado brasileiro volte a intervir como orientador e condutor de uma política industrial, tal como sugerida pelo Plano Brasil Maior, ocorre em um cenário de extrema fragilidade das economias centrais. Europa, Estados Unidos e Japão enfrentam sérios problemas, com contas públicas deterioradas e repercussões negativas nos principais setores produtivos, principalmente na indústria, com reflexos sobre o emprego e a renda das pessoas. Tudo isso alimenta a economia internacional de pressões e tensões de todo tipo. Para os países emergentes, como o Brasil, o deslocamento do eixo econômico para a Ásia representou a abertura de novas oportunidades e passou a exigir políticas que possam se mostrar proativas no aproveitamento destas oportunidades. Apostas e perspectivas Formou-se uma zona de consenso entre os analistas: o Brasil não terá como redirecionar sua política econômica no sentido de incrementar o crescimento sem superar alguns de seus problemas crônicos, que há décadas impedem seu deslanche. Terá, também, de rever ou complementar a política econômica que vem sendo posta em prática desde o governo Lula, assentada na expansão do crédito e do consumo popular. Essa situação fez com que o governo Dilma tivesse de lidar com uma agenda de temas e problemas que em parte correspon140 As ruas e a democracia