As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 139

Foi esse o eixo do discurso com que a presidente Dilma abriu a 66ª Assembleia Geral da ONU, em 21 de setembro de 2011. A nova posição relativa do Brasil está associada a modificações que afetam a estrutura do sistema internacional. O mundo mudou, vive outra fase, clama por novas ideias e atitudes no terreno das relações internacionais. Um novo tipo de cooperação, reforma das instituições financeiras, ajustes no Conselho de Segurança, coragem e ousadia – é o que se espera das lideranças mundiais. O desafio posto pela crise mundial, que é econômica, de governança e de coordenação, disse a presidente, “é substituir teorias defasadas, de um mundo velho, por novas formulações para um mundo novo”. As grandes potências não podem mais controlar o sistema, nem funcionar como garantidores de um padrão de ordem internacional. Já não há a unipolaridade que pareceu se instituir no mundo depois da Queda do Muro em 1989. Mas a “multipolaridade” (União Europeia, Japão, Brics) é somente um esboço, graças aos diversos problemas específicos que cada um destes polos apresenta. Ainda que os EUA continuem a ser poderosos, seu poderio se afirma em um mundo povoado por outras potências importantes, países emergentes, redes sociais, fluxos vários e inúmeros atores não governamentais, num contexto econômico em que os mercados ficaram mais fortes do que a regulação política empreendida pelos Estados. O mundo se tornou “pós-norte-americano”: um sistema internacional híbrido, mais democrático, mais dinâmico, mais aberto e conectado, no qual os EUA declinam economicamente e perdem força relativa. Um mundo com “muitas potências e uma superpotência”, segundo os chineses. No qual todos agem e pesam: o centro e o resto, as grandes, as médias e as pequenas potências, as regiões, os Estados e os atores não estatais, os lugares e as pessoas. Todos, de certo modo, ganharam poder. A hierarquia, a centralização e o controle passaram a ser minados ou III. Voo panorâmico sobre o governo Dilma 137