As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 13
A tendência predominante de nossa sociedade mostra a vingança histórica do espaço, estruturando a temporalidade em
lógicas diferentes e até contraditórias de acordo com a dinâmica espacial. O espaço de fluxos dissolve o tempo desordenando a sequência dos eventos e tornando-os simultâneos,
dessa forma instalando a sociedade na efemeridade eterna.
O espaço de lugares múltiplos, espalhados, fragmentados e
desconectados exibe temporalidades diversas, desde o domínio mais primitivo dos ritmos naturais até a estrita tirania do
tempo cronológico. (...) A intemporalidade navega em um
oceano cercado por praias ligadas ao tempo, de onde ainda
se podem ouvir os lamentos de criaturas a ele acorrentadas.
Manuel Castells. A sociedade em rede, 1999, p. 490