As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 120
Houve, porém, um momento em que pareceu adquirir nova
vitalidade. Foi com as eleições municipais. Havia muita expectativa quanto a seus resultados, sobretudo porque as disputas
transcorreram em um clima sobredeterminado pelo julgamento
do “mensalão”, que dramatizou o processo político ao longo de
meses. Muitos analistas acreditavam que o julgamento teria
sido realizado justamente para prejudicar o PT, que seria afetado pela condenação recebida por algumas de suas lideranças.
Terminado o primeiro turno das eleições de 2012, porém, percebeu-se que entre mortos e feridos haviam sobrevivido todos.
Ainda que tenha perdido em Recife, Manaus e Belo Horizonte, cidades em que houve alto investimento político de Lula,
o PT não foi afetado pelo julgamento do “mensalão” ou pelo
“cansaço” do eleitor com os longos anos de domínio do partido.
Cresceu em prefeituras e em número de vereadores. Deixou evidente que sensibilizava parte grande da população. O efeito que
as políticas federais tiveram nas eleições não foi desprezível.
O PSB soube usar bem sua condição atual, equilibrando-se
entre o apoio ao governo federal e a independência. Ganhou
onde já era poder (Recife e Belo Horizonte), mas fez isso em
grande estilo. E aumentou seu poder de barganha dentro e fora
da coligação governante. O PSD, de sua parte, saiu-se bem para
um novato sem crédito na praça, flertando com o governo em
quase todas as partes. O PMDB reiterou sua tradicional capacidade de colar em todo o território nacional. Não emocionou
nem retrocedeu.
O PSDB, por sua vez, permaneceu sendo a única referência
oposicionista do país, mas mostrou que tem voz fraca e poder de
fogo somente relativo. O resto da chamada oposição se diluiu e
perdeu o rumo. A fraqueza do PSDB como partido de proposta
e projeto continuou a conviver com sua sobrevivência como legenda eleitoral e mesmo com a afirmação de candidatos relativamente competitivos a ele vinculados, como é o caso de Aécio
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