As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 111

O Brasil tornava-se um país mais bem posicionado no mundo e mais homogêneo internamente. Isto contribuiu sobremaneira para dar ao novo governo uma excepcional oportunidade de se estabilizar e produzir resultados. O modelo político e econômico que sustentava a nova fase do país, porém, apresentava fragilidades em seus alicerces e não iria conceder tranquilidade aos governantes, que permaneceriam diante de desafios complicados e com poucos recursos políticos para exercer suas funções. Turbulência inicial Não foi por acaso que os primeiros meses do novo governo tenham sido vividos sob o signo da instabilidade ministerial. A fraqueza da equipe com que o governo começou seu mandato ficou flagrante logo ao ser composta. Não havia nela nenhuma liderança política ou intelectual expressiva, assim como faltavam articuladores políticos capazes de ligar o governo ao Congresso Nacional e dialogar com as oposições, a imprensa e a sociedade civil. Passadas algumas poucas semanas, denúncias de corrupção e revelações de atos administrativos inadequados ou de desvios de conduta caíram como torpedos sobre o governo, forçando a saída de alguns ocupantes do primeiro escalão ministerial. O ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, tido como homem forte do governo, foi o primeiro a sair. Iniciou-se assim o que foi interpretado por vários analistas como um ajuste de contas do novo governo com o legado do ex-presidente Lula, uma operação destinada a sintonizar o governo Dilma com as novas circunstâncias políticas do país, entre as quais figuravam, em lugar de grande destaque, a ausência de atributos carismáticos na Presidência da República e a indisposição de sua ocupante para praticar o jogo político miúdo, a articulação política e a exposição midiática intensiva, coisas que haviam feito a fama de seu antecessor. Tanto a dificuldade de fixar uma imagem de governo quanto as oscilações registradas nos primeiros meses, portanto, vinculaIII. Voo panorâmico sobre o governo Dilma 109