As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 109

O governo Dilma Rousseff nasceu como expressão de um esforço de superação, no sentido preciso que esse termo tem no vocabulário da filosofia e das ciências sociais: um movimento que retém e eleva a nível superior a melhor parte do processo político que o antecedeu. Impulsionado e legitimado pelas urnas de 2010 – e contando desde sempre com o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, principal liderança política do país –, o governo empossado em janeiro de 2011 teve de conviver e interagir com a recorrente crise financeira global, com o prosseguimento da reorganização do sistema internacional e com a inoperância do sistema político e partidário brasileiro. Cada um destes polos, como se sabe, produz efeitos colaterais que criam tensão e complicam a governabilidade. Mas o governo Dilma também pôde contar com fatores favoráveis, que em certa medida contrabalançaram aqueles efeitos e ajudaram a ação governamental a construir alguns importantes diques de sustentação e de animação para seus projetos e apostas, ao menos até o final de 2012. Houve algo de paradoxal nisso. O governo teve início num momento em que o Brasil estava com a moeda estabilizada, re107