As ruas e a democracia. Ensaios sobre o Brasil contemporâneo | Page 100

Os problemas do SUS são muitos e complexos, requerem esforços concentrados e de longo prazo. A conjugação de saúde pública e liberdade de iniciativa privada, via planos de saúde, somente tem chances de funcionar se houver muita atuação regulatória do poder público. A recomposição do sistema passa por desafios tão complicados quanto os seguintes: financiamento insuficiente, gestão pública sem modernização, formação precária de recursos humanos, planejamento ruim, falta de regulação dos planos de saúde e judicialização da saúde. O critério está dado: “A saúde pública deve garantir um padrão de integralidade ao cidadão num pacto social. Não há tudo para todos em área que tem custos. Direitos que custam precisam de delimitação em razão do orçamento público. É imperioso que o poder público discuta com a sociedade quais as ações e serviços de saúde serão garantidos a todos, de maneira universal, igualitária e equânime” (SANTOS, 2013). A reforma radical do modelo brasileiro de assistência à saúde está na agenda faz tempo. O SUS é um sistema público e universal, segue uma tradição que tem se mostrado capaz de produzir resultados adequados. Ao longo dos anos, foi sendo abandonado e terminou desorganizado, com políticas e programas diferentes conforme o governo. “O SUS está dividido entre atenção primária, hospitais, ambulatórios, urgência, saúde mental etc. O SUS está estraçalhado entre serviços públicos, organizações sociais, fundações, entidades filantrópicas, uma babel em que não há solução gerencial mágica. O SUS sofre com as mesmas mazelas do Estado brasileiro: ineficiência, privatização de interesses, clientelismo, burocratização. Precisamos, urgente, de uma reforma do modelo de gestão que diminua o poder discricionário do Poder Executivo e assegure sustentabilidade e continuidade ao SUS. O Brasil precisa de Mais SUS” (SOUZA CAMPOS, 2013). A substância da nova política que poderia nascer de um pacto nacional implica muitas coisas, até mesmo sacrifícios e conces98 As ruas e a democracia