DEPOIS DAS EUFORIAS
(desdobramento em sonho, por Nilton Bustamante)
Parecia ser mais um dia...
Antes de eu querer fazer mais uma pergunta para mim mesmo, fazer
qualquer pergunta para os céus, veio-me alguém da Espiritualidade
e com sua voz mental penetrou-me o íntimo e esclareceu:
“Estes corpos são todos das vítimas dos vícios das drogas, drogas
Parecia ser mais um daqueles dias normais, onde os ponteiros dos de todo tipo e ‘má sorte’, que agora estão unidos pela mesma desrelógios já sabem de cor e salteado os mesmos caminhos, os mesmos graça voluntária. Estão no cemitério das desilusões, e cada horr or
voos dos passarinhos pelo céu que está azul, um azul de paz e para que cada um desses passou está estampado na memória espiritual,
outros voos mais.
juntando-se na mesma frequência
Parecia, mas algo acontecia...
fluídica perturbada e perturbadora. Os iguais se buscam. E esse
ajuntamento, esse cemitério é obra desses mesmos seres desencarEu descia por uma inclinação do terreno, descia pelos caminhos da nados que tomados por esses vícios que estão em seus psiquismos,
Universidade. Tudo muito grande, mas, sem saber bem o porquê
logo sentia um peso, algo oprimindo, algo me cansando os passos. tentam vampirizar os resíduos fluídicos das drogas que ainda esParecia que não acontecia mais nenhum tipo de voo.
tão de algum modo nesses corpos que se desfazem... Buscam, esses
espíritos, desesperadamente sentir as mesmas sensações que os esE cada vez que eu seguia, mais eu sentia essa dificuldade de andar, de cravizaram ao extermínio de si mesmos. E esses jovens que você vê,
respirar... O chão ficava difícil, tortuoso, acidentado, e, quando olho ruidosos, nesses bares periféricos, onde margeiam as mesmas águas
para baixo para ver o que se passava abaixo da linha do Equador dos de onde vêm os ‘cantos das sereias’, cantos para o fundo da morte,
meus olhos eu me espantei fortemente, um enorme susto provocou- são jovens que estão ligados moral e mentalmente nos mesmos inme uma descarga radical de adrenalina: andava sobre corpos sem teresses, e são os próximos da fila, os próximos que farão parte desse
vida.
circo dos horrores; vão eufóricos para o fim de si mesmos e não percebem, ou não querem perceber...”
Por onde minha visão alcançava, era só corpos amontoados uns sobre os outros formando um pseudo solo; e outros tantos submersos E continuou a mesma voz auxiliadora:
em pântano de virar o estômago, sinistro, triste, frio, pior que qualquer cemitério, algo indecente, algo contra qualquer dignidade... E “A prece, muita prece em favor deles todos é mais que necessário, é
eu queria entender aquilo tudo.Equilibrava-me, pisava sobre as ca- vital! A Espiritualidade está atenta e atuante, por isso convidamos
beças para não me afundar, queria sair dali a qualquer momento, a os nossos irmãos que estão encarnados que venham em alma em
qualquer instante, logo que possível... Olhei para trás, dei um grito seus desdobramentos, em seus sonhos, para tomarem ciência desses
para meu filho mais velho vir e ver o que eu tinha encontrado, saber acontecimentos, desses dramas, nas outras dimensões, para que haja
o que se passava, tomar conhecimento, saber da existência desses união entre Céu e Terra, entre a Espiritualidade Maior e os espíritos
horrores, ele precisava saber, precisava... Ele veio, e também atur- encarnados para se afinarem na mesma sintonia do amor, unindodido passou a me seguir.
se fluidicamente, em energias benditas, para fazer oposição a essas
outras energias grosseiras dos horrores; temos que
Parecia o filme do “Senhor dos Anéis”, quando o jovem protagonista
passa por um pântano, um lodaçal e vê corpos submersos que não libertar nossos irmãos sofredores desses transes dos vícios, tanto
mais contavam história alguma, apenas abraçavam a
àqueles já desencarnados, tanto àqueles encarnados em suas festas
desenfreadas que estão caindo no ‘canto da sereia’, para que possam,
Eternidade com seus horrores e dramas... E na minha ansiedade de dessa maneira, serem revitalizados pelas ondas de preces de amor
sair dali, depois de um pequeno riacho, raso, que eu tentava limpar a favor deles, tomar ânimo para um melhor caminho, outro campo
meus pés de possíveis asquerosidades logo vi uma turma de jovens, mental longe disso tudo, desse sofrimento todo... "
alegres, em algazarras, dessas que ficam pelos bares perto das universidades pelo mundo afora, onde tudo é festa, tudo é alegria, tudo E a mesma voz mental, finalizou:
é risada por nada, por tudo...
"A natureza da vida é evoluir! Continuemos com muito amor em
De um lado todos aqueles corpos de jovens e adultos − a maioria era Jesus Cristo, pedindo que o nosso
de rapazes −, inertes, tragados pela desgraça, e de outro lado aqueles
jovens festejando a vida da maneira deles, aos gritos da música alta, Irmão Maior possa interceder por todos nós diante do Pai, é a nossa
fazendo fronteira de parte a parte. O problema não era a música fé, é a nossa esperança, nossa prece, prece de amor... ”
alta, nem os risos descontrolados, nem a alegria de se reunir com
pessoas amigas, nada que fosse próprio da juventude,
Eu despertei em seguida. O que parecia ser mais um dia, mais uma
mas era o que se passava por debaixo das mesas, o que se seguia pe- noite, quem sabe agora, um novo raio de luz.
los bastidores daquele cenário aparentemente inofensivo.