A democracia sob ataque | Page 56

truí-la com a chamada Terceira Via , comandada pelo trabalhista britânico Tony Blair . Houve até avanços nesse período , especialmente na gestão pública e na adoção de ferramentas tecnológicas para tornar os governos mais transparentes e abertos . Mais recentemente , líderes como o presidente Obama avançaram também em agendas progressistas , no campo dos valores e no terreno ambiental . Entretanto , mesmo essas lideranças fracassaram em criar uma nova aliança social para combater a desigualdade , que é crescente na maioria dos países ricos .
O populismo não é o melhor substituto do globalismo liberal , evidentemente . O retorno a um nacionalismo pré-Muro de Berlim , combinado com discursos baseados num moralismo fascistóide – pois persegue minorias e alimenta a intolerância – e em promessas de um “ governo forte ”, constitui uma fórmula que vai aprofundar a crise , em vez de resolvê-la . Para além do front interno , o modelo populista vai gerar grande instabilidade geopolítica no mundo , atingindo aquilo que a globalização obteve de estabilidade internacional , ainda que ela não se estenda a todo o planeta .
O desafio maior hoje , portanto , está em criar outra alternativa , que passe , de um lado , por novos pactos nas democracias que garantam uma combinação ótima entre produção de riqueza e sua redistribuição , e , de outro , por reformulações na globalização , para que os aspectos positivos da integração internacional sejam acompanhados de uma redução da assimetria entre os países .
Uma possibilidade seria pensar numa socialdemocracia vinculada aos desafios do século XXI . Claro que ela teria conformações diferentes nos diversos espaços nacionais , levando em conta a história e a assimetria entre os países . De todo modo , sua agenda seria uma renovação da ideia reformista que a instituiu : um pacto pluriclassista capaz de balancear melhor a produção capitalista com o combate à desigualdade . Não seria possível hoje fazer isso da mesma maneira que no passado . São muitas as mudanças que precisaram ser levadas em consideração : tecnológicas , demográficas , na distribuição econômica da riqueza entre as nações etc . Porém , tais dificuldades não devem gerar inação ; ao contrário , devem estimular políticos , intelectuais e lideranças sociais a pensar num novo paradigma . Afinal , também não estava claro o que fazer em outros momentos de reforma do capitalismo .
A agenda desse novo reformismo deve incorporar um conjunto de pressupostos . O primeiro é a necessidade de fazer as mudanças reforçando as instituições democráticas , sejam as clássicas ,
54 Fernando Luiz Abrucio