A democracia sob ataque | Page 36

ajuda . A verdadeira batalha , portanto , não será em torno da reforma , mas das possibilidades de sua concretização . Tanto quanto antes , continuará decisivo saber se as escolas terão como oferecer um ensino de boa qualidade , com ou sem grade opcional , com 10 , 12 ou 15 disciplinas , com Artes ou sem , em meio período ou período integral . Se os professores forem bons , meio caminho já estará andado , pois serão eles a motivar os alunos , a ajudá-los a escolher , a mostrar-lhes a importância de conhecer o mundo , as letras , as ciências , as profissões , o Estado e o mercado , de se interrogar sobre a sociedade em que se vive . O arranjo sistêmico pode ajudar ou atrapalhar , mas não decidirá nada .
Se vivemos numa época que consagra a liberdade de movimento , a pluralidade de opiniões e fornece muitas possibilidades de escolha em cada minuto do dia , será melhor um ensino que leve isso em conta . O risco de uma “ tirania das escolhas e possibilidades ” estará sempre ali e terá de ser assimilado pelo cotidiano escolar . Com ou sem a reforma aprovada .
A falta que faz um bom consenso democrático
Estes quatro pontos estão hoje no centro da agenda política do país , juntamente com a questão que não quer calar , a da corrupção . A corrupção , por sua vez , passa pelo financiamento eleitoral ( se público ou não , com empresas ou sem elas ) e este pelo sistema partidário e eleitoral , pelo número de partidos , pela adoção ou não de cláusulas de barreira , pelo modo como se organizam as listas partidárias de candidatos ( abertas ou fechadas ).
Em suma , está tudo conectado , misturado e combinado , o que amplifica a gravidade e aumenta os desafios inerentes à situação . O sistema político , enfartado por falhas e condicionado por mecanismos vários que corroem seu funcionamento , jaz sobre a mesa , à espera de uma reforma . Que o campo democrático deveria tratar como coisa sua , mas não o faz .
Sem que se responda a esses pontos , os democratas não subservientes ao governo Temer permanecerão parados . Não terão como contestar politicamente o governo , nem se organizar para apresentar uma candidatura que os represente em 2018 e que faça isso de uma perspectiva renovada , sem o ranço do passado e com firme disposição para projetar uma efetiva transição do país para um patamar superior .
34 Marco Aurélio Nogueira