A democracia sob ataque | Page 192

Desbunde como resistência contracultura
Martin Cezar Feijó

Normalmente se conta a história da resistência ao regime militar no Brasil ( 1964-1985 ) a partir de dois enfoques : a opção pela luta armada ou em torno da unidade política das oposições . Quase nunca se reconhece ter havido uma forma alternativa de resistência , tida como alienada ou covarde , porque principalmente baseada em um estilo de vida , nas artes ou em uma perspectiva individual e mais voltada para o prazer e a liberdade .

No Brasil , esta alternativa foi denominada de desbunde de uma forma pejorativa . E um livro recém-publicado em inglês , pela Universidade da Carolina do Norte , apresenta uma versão nova deste contexto : Contracultura – Alternative Arts and Social Transformation in Authoritarian Brazil , de autoria de Christopher Dunn .
Um período ao mesmo tempo opressivo e marcado por uma profunda criatividade artística , que ia das artes plásticas à poesia , da música popular ao cinema , de Hélio Oiticica a Wally Salomão , de Caetano Veloso a Glauber Rocha . E embora o epicentro da contracultura no Brasil tenha sido a cidade do Rio de Janeiro , Salvador foi um cenário privilegiado de experimentalismo nas artes e nos costumes . Gerando até um acompanhamento da imprensa do Sul , nem sempre com bons olhos .
E uma imprensa alternativa também é destacada , a começar do semanário O Pasquim , que tinha entre seus jornalistas Luiz Carlos Maciel , pioneiro nas questões da contracultura no Brasil . Mas este periódico , apesar de Maciel , não poupou o que chamou “ invasão dos baianos ”, chamados de “ baiunos ”, de forma jocosa . A resposta foram Os Doces Bárbaros . A Bahia como o Oriente do Brasil . Contra a banalidade do mal , uma “ baianidade ” do bem ...
Além da imprensa alternativa , que teve um papel fundamental na resistência , com sua pluralidade e abordando aspectos que atraiam uma juventude antenada culturalmente com as tendências mundiais , a contracultura no Brasil , estudada por Christo-
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