A democracia sob ataque | Page 169

inaugurada em 1962 , e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação , promulgada em 1963 . Daí foi ministro da Casa Civil e perdeu a batalha por suas causas da época : a reforma agrária , o controle da emissão de lucros das empresas estrangeiras e a implantação da educação de base por todo o Brasil .
No exílio do Uruguai , Chile , Peru e Venezuela , Darcy escreveu uma vasta obra que chamou de Antropologia da Civilização , que compõe seis volumes sobre índios , problemas culturais e políticos brasileiros e sul-americanos , e uma teoria sobre a formação de sociedades e nações , especialmente destinada para entender porque o Brasil se desenvolvera tão mal e tão desigualmente e como poderia se aprumar de novo – sobretudo após o momento , que ele sabia que viria um dia , do fim da ditadura militar . Seu livro sobre o processo civilizatório foi elogiado , nessa ocasião , pelo historiador Arnold Toynbee , como uma das obras mais lúcidas daquele período . Naqueles anos , os intelectuais latino-americanos amavam as obras de Darcy muito mais do que os brasileiros , exceto por sua última grande obra , O povo brasileiro , publicada quase no fim de sua vida , em 1995 .
No Rio de Janeiro , Darcy abraçou o projeto de Brizola de retomar as propostas do getulismo , desta vez renovadas pela experiência no exílio e por uma visão mais abrangente do mundo , e com uma pitada bem forte de um ideal de socialismo e de cultura brasileira . Por duas ocasiões ( 1983-86 ; e 1991-95 ) lançou e implantou o Projeto Ciep , com a instalação de 506 escolas destinadas à educação de tempo integral ; fez a Universidade do Norte Fluminense ; e construiu o Sambódromo , inicialmente criticado por muita gente e hoje emulado pelo Brasil afora .
Quem teve a honra , o prazer ou até o desconforto de conviver com Darcy em função de suas atividades públicas , que começaram desde meados da década de 1940 , sabe que o homem não era mole . Getúlio Vargas o chamava de “ encouraçado Potenkim ”, quando Darcy foi levado pelo Marechal Rondon , junto com Orlando Villas-Boas , para apresentar e discutir o projeto Parque Nacional do Xingu , que eventualmente iria criar a primeira grande terra indígena do Brasil , a qual eventualmente serviria de exemplo para as futuras demarcações de terras aborígenes . Getúlio se espantara com esse jovem intelectual ( 31 anos à época ) expondo com veemência que o Brasil precisava assegurar para as futuras gerações uma grande parte da Amazônia , antes que os invasores a tomassem toda , e que demarcar terras para os índios seria um caminho bom e natural . Dito e feito , Getúlio assinou o projeto ,
20 anos sem Darcy : a falta que ele faz ao Brasil
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