A democracia sob ataque | Page 146

É certo que a definição do Pacífico como centro da geopolítica estratégica dos EUA antecede em muito a ascensão do intempestivo magnata ao comando da maior potência militar do globo : foi no governo Obama que o Pentágono delineou a reorientação dos planos de defesa para o desenrolar do novo século . Mas a transição de go verno em Washington , à qual se soma agora o relativo vácuo po lítico na Coreia do Sul , transforma mais do que nunca em enig ma a Coreia do Norte .
Não terá escapado ao jovem Kim , herdeiro de uma dinastia comunista na superfície e na nomenclatura , mas fundamentalmente monárquica , que os adversários exibem hoje capacidade limitada de resposta , mais ainda de resposta imediata . Com a repetição de testes com misseis de longo alcance e artefatos nu cleares , o regime norte-coreano joga um delicado xadrez geo político regional e global .
A diferença , em relação ao tabuleiro disposto durante o governo Obama , é que , hoje , os EUA fazem parte do campo das incógnitas , com um presidente que afirma , desde a campanha , a primazia do que entende como interesses próprios do país sobre o que mais se interponha a eles .
É unilateralismo , estúpido !
Houve , durante a intempestiva campanha eleitoral pela Casa Branca , quem classificasse como “ isolacionista ” a postura de Trump sobre política externa . Os movimentos recentes no Pacífico , porém , sugerem que é outro o adjetivo talhado para vestir a diplomacia americana sob o novo governo . O magnata republicano jamais se disse alheio ao que acontece mundo afora : o que afirmou , e que certamente rendeu votos valiosos , foi a determinação de colocar à frente do que mais seja aquilo que identifica como os interesses dos EUA .
Em resumo , o foco do Departamento de Estado , hoje sob o comando do executivo-chefe da multipetroleira Exxon , passa a ser uma abordagem unilateral dos conflitos e contenciosos . Um enfoque que pôde ser captado na resposta inicial às novas pro vocações norte-coreanas : a instalação de sistemas antimísseis na Coreia do Sul , movimento que , ao lado do patrulhamento naval no Mar do Sul da China , provocou reação pronta e irritada do regime comunista chinês , que falou em “ consequências ” – referência a possíveis represálias econômicas e comerciais .
144 Silvio Queiroz